O Logro Louça
Francisco Louça para além de ser líder do Bloco de Esquerda é professor universitário. Catedrático em Economia.
Tem, assim, especiais responsabilidades no que diz sobre o tema. Não é um cidadão comum ou, como os juristas gostam de dizer, um homem médio, mas sim alguém com especiais responsabilidades.
Aliás, note-se, Francisco Louça, ainda que subliminarmente, não deixa de chamar a sua especial auctoritas no que concerne a temas económicos.
Porém, o mesmo Francisco Louça que é professor catedrático não hesita em cometer erros – que, no caso concreto, só podem ser cometidos dolosamente – para amealhar mais uns votos. Três exemplos.
O primeiro e mais óbvio consiste em afirmar que as Nacionalizações de 74/75 foram feitas para salvar a economia do país, dando um pontapé em toda a história económica. Mas deixemos este cado de lado, concedendo que se deve apenas a uma visão distorcida da realidade
De facto, muito mais grave foi a afirmação de Francisco Louça - feita pouco antes da pré-campanha – de que “se metermos duas notas numa caixa e esperarmos um ano, no final temos apenas duas notas”, para concluir a final que “o capital nada cria, tudo é criado pelo trabalho”.
A confusão dolosa e ardilosa entre dinheiro e capital enquanto meio de produção foi tão escandalosa que mereceu um fortíssimo ataque em artigo de opinião do seu Colega de Faculdade, Doutor João Duque, dizendo mesmo que tal afirmação quando feita por um aluno do primeiro ano de economia significaria um chumbo na certa.
Mas nós, culpa nossa, nunca confrontamos Louça com as suas incoerências, dando-lhe roda solta para continuar a pontapear a economia, da qual é catedrático.
Já em plena campanha surge o último exemplo: parte da Galp foi vendida a Américo Amorim (na verdade foi vendida à Amorim Energia, o que não é a mesma coisa, mas avante) por 1700 milhões de euros e tem lucros de 300/400 milhões de euros, para concluir que em 4/5 anos o investimento feito pelo empresário se encontrará pago.
Mas, como já se disse, Louça não é um cidadão qualquer e sabe que o seu raciocínio não é simplesmente errado, mas sim falso, dolosamente construído para enganar.
Louça não pode deixar de saber que 1700 milhões de euros custam dinheiro, muito dinheiro, pois, haverá que pagar juros sobre esse montante ou remunerar o capital caso a compra tenha sido efectuada com base em capitais próprios.
Ora, admitindo uma taxa de 3,5% no financiamento, tal facto significa que o serviço anual da dívida será de cerca de 59,5 milhões de euros (fora comissões, encargos e tudo o mais).
Por outro lado, como Louça não pode deixar de saber o lucro líquido do exercício não se confunde com a remuneração aos accionistas, na medida em que uma parte – parte significativa – não é distribuída.
Assim, admitindo um pay out de 50% (muito generoso diga-se), aos accionistas apenas será distribuído cerca de 200 milhões de euros.
Mas mais: como Louça muito bem sabe a Amorim Energia apenas detém 33% do capital social da Galp, pelo que apenas receberá – como é lógico e evidente – 33% dos 200 milhões de euros distribuídos, ou seja, 66 milhões de euros.
Assim, a verdade é que para pagar o seu investimento apenas à custa da distribuição de dividendos manifestamente não bastariam os 4/5 anos esgrimidos por louça, mas sim 261,5 anos.
Mas claro há um outro factor – para mim o mais importante – e que Louça também não gosta de falar: os resultados que a Galp apresenta hoje apenas são possíveis por causa da sua nova gestão.
Enquanto o Estado por lá andou nunca foram sequer comparáveis. Desde a sua privatização a Galp mudou o rumo, investiu na produção, correu riscos e criou riqueza, enquanto durante o tempo de controlo estatal se limitou a explorar um monopólio.
Essa é toda a diferença entre a gestão pública e privada.
Contas simples que demonstram o erro doloso de Louça, relembre-se Catedrático em economia.
Assim, usando uma expressão que Louça tanto gosta, votar Bloco é votar na aldrabice. É votar na desinformação.