Anatomia de um Reformismo
O Eng.º Sócrates tem uma aura reformista. Além de qualidades místicas, também revelou ser um cultor da semântica ao explicar, com a eloquência que o exemplo dos 150.000 empregos permite, a diferença entre uma promessa e um objectivo. Sendo assim, impõe-se uma tarefa: fazer uma análise puramente semântica do seu reformismo, pedra basilar da narrativa com que o Primeiro-Ministro quer convencer os portugueses a reconduzi-lo no cargo.
No seu livro "Reforms at Risk", o Eric Patashnik define uma reforma como "uma mudança de rumo, propositada e não-incremental, relativamente a uma linha política anterior, com o objectivo de produzir benefícios generalizados". Ou seja, para este autor, uma reforma implica um confronto com interesses instalados, levado a cabo num curto espaço de tempo, com vista a produzir benefícios distribuídos de forma mais equitativa do que anteriormente e onde é realmente possível responsabilizar a acção do governo pelos resultados obtidos.
Das 132 medidas que PS considera serem as "marcas da mudança" destes últimos quatro anos, com boa vontade, apenas 13 cumprem estes quatro critérios. Mesmo contando com as inúmeras repetições e com a desmultiplicação de "reformas" em várias medidas para fazer número, o leque destas "marcas de mudança" vai desde o remendo, à mais vazia das propagandas. Nem é preciso avaliar os resultados destas medidas para chegar à conclusão de que as "reformas" do governo não resistem sequer ao seu próprio preciosismo linguístico. Na esmagadora maioria dos casos, o único interesse instalado que foi confrontado foi o do contribuinte português.