A remuneração da banca de investimento
Sarkozy vem insistindo na urgência em colocar um cap na remuneração variável dos traders - ok, ok, sou parte interessada na matéria, mas ainda assim, tenho direito a opinar - e quer agora ver alargada essa sua intenção a todo o espaço do G8 e mesmo G20. Por cá ainda não há ecos desta iniciativa, mas parece-me que não deverá demorar.
A questão é mais complexa que o simples populismo arcaico sobre o excesso no pagamento dos bónus. É obvio que houve exageros, e é obvio que se cometeram excessos, assumindo riscos que não eram convenientemente acautelados via remuneração variável, que depende(ia) exclusivamente dos resultados imediatos.
O problema é que após a crise há vários pontos fundamentais a ter em conta nesta matéria:
a) há bancos que não necessitaram de ajuda dos Estados (e portanto, provou-se que estavam à altura de responder à crise, quer em termos de solidez, quer em termos de gestão de risco, e obviamente em termos de remuneração);
b) Os contribuintes devem ter a sua situação acautelada para futuras crises semelhantes;
c) Não compete ao Estado intrometer-se na remuneração de colaboradores de entidades privadas (já chega o que faz com os impostos...);
d) Este tipo de acção não pode ser levada a cabo por um país isoladamente, sob pena de perda de competitividade (o mesmo se aplica à questão das offshores).
Ora, o que resta aos Estados fazer é simplesmente recompensar devidamente quem não precisou e não usou a ajuda dos contribuintes, não deturpando ainda mais a concorrencia (algo que aconteceu injustamente aquando das nacionalizações), e actuar nas entidades onde se tornou accionista, agindo como tal. Se não quiser manter as posições, restar-lhe-á livrar-se delas (a maior parte com um lucro bastante simpatico, já agora).
Agora tirar colocar um limite à remuneração soa a injustiça se for aplicado apenas a uma classe profissional.