(texto originalmente publicado aqui)
Percebe-se a excitação dos socialistas com a prestação do querido e amado líder no debate de ontem com Francisco Louçã. Com efeito, há, por um lado, cada vez mais a sensação de que Sócrates não é capaz de renovar a confiança que uma maioria de portugueses lhe conferiu em 2005. Por outro, é também verdade que, à esquerda, Louçã representa o maior perigo à hegemonia que o PS tem tido desde 1976.
Se aliarmos a estas duas premissas o facto das expectativas quanto ao debate de ontem darem uma vitória por KO a Francisco Louçã, resulta evidente que a vantagem de Sócrates no debate equivale a uma vitória de uma equipa do campeonato distrital sobre o Glorioso. Em resumo, ontem houve Taça. Adiante.
Se eu fosse socialista, porém, não entrava em histerismos. Sócrates limitou-se a aplicar a Louçã a técnica que este, ao longo dos últimos anos, utilizou com os seus adversários, pondo a nú aquilo que é uma evidência para a grande maioria há já muito tempo: se o BE fosse governo, nem os candelabros cá ficavam.
Mas se, do ponto de vista formal, a vitória de Sócrates foi ontem uma evidência, a verdade é que, do ponto de vista substantivo, exige-se muito mais de um primeiro-ministro. Desde logo, há a esperança que apresente propostas que possam melhorar a qualidade de vida dos eleitores; que apresente pistas para sairmos da crise; que tenha a honestidade de reconhecer os erros dos últimos 4 anos e justifique a razão de ser de uma reeleição; que explique onde é que as suas políticas falharam. A realidade, porém, é que Sócrates não fez nada disto. Sócrates limitou-se a pontapear o adversário com mais força, sem que tenha conseguido demonstrar que é efectivamente o melhor (suspeito que acontecerá o mesmo no debate com Ferreira Leite).
Sócrates, ao contrário do que a propaganda nos quis fazer crer, foi um péssimo primeiro-ministro. Os últimos 4 anos não passaram de um equívoco e é por isso que ninguém pode faltar à chamada do próximo dia 27. Sócrates pode ser um excelente tribuno e pode, inclusivamente, ganhar (quase) todos os debates, mas estou cada vez mais convencido de que não consegue ganhar o país.