Parece-me que falta muito na sociedade e nas mentalidades dos portugueses para cumprir a república. Nesta óptica, o desfecho deste gesto audaz e provocador dos 31 da Armada deverá ser interpretado como um termómetro do espírito democrático da actual república portuguesa. Não serão os festejos que vão marcar o povo, que pouco se interessa por estes eventos, muito menos o idiossincrásico elitismo de alguns políticos geriátricos que proclamam-se como republicanos. A capacidade de aceitação de eventos como este hastear da bandeira monárquica (e portuguesa) é que pode ser marcante; tal como matar o touro em Barrancos foi um crime que compensou e que muito demonstrou sobre a aplicação das leis em Portugal, a maneira como a república lida com esta tourada das bandeiras também será reveladora.
A questão sobre a incapacidade desta república governar o território nacional está bem simbolizada por ambas as acções divertidas dos 31 da Armada, uma nos confins do território, na esquecida e ocupada Olivença, outra em pleno centro administrativo da capital. O Ministério Público poderá vir a punir os quatro autores desta brincadeira por alegado ultraje à república devido à substituição de uma bandeira municipal por uma bandeira monárquica, mas não se atreve a condenar a poderosa monarquia espanhola por ilegalmente colocar as bandeiras do seu rei soberano nos territórios e monumentos deste concelho português de além Guadiana. Local esquecido pelo nosso Estado, onde estes valentes “shit disturbers” foram colocar a bandeira da república portuguesa.
Será que a república portuguesa é uma verdadeira república, que zela pelos seus cidadãos e o seu território geográfico e cultural, ou será que é uma entidade fechada, impondo a ideologia prescrita e privilegiando o status quo em vez de se preocupar pelos interesses do país real? Sabedoria popular diz que "cada povo tem o governo que merece", e nestes assuntos como em toda a política isto depende de nós todos, começando pela opção de escolha nas próximas eleições.