O João Galamba escreveu há alguns dias, a propósito deste post, sobre a sua concepção de conservadorismo e em particular a devoção que os conservadores alegadamente têm a Michael Oakeshott: «Os conservadores adoram Oakeshott - adoram a sua elegância e depuração estilística, a sua moderação, o seu anti-aventureirismo.», concluiu a partir de uma citação que fiz no referido post e que para poupar trabalho, repito:« «I am a member of no political party. I vote – if I have to vote – for the party which is likely to do the least harm.». O que eu deveria ter feito seria completar a citação, que termina assim:«To that extent, I am a Tory».
Ora esta é apenas uma das sérias ironias que Oakeshott adorava fazer e que terá sido responsável pelo filósofo nunca ter sido aceite pelo establishment académico e político. Não lhe chamavam o Tory Dandy por nada. Mas isto não terá importância. São as conclusões que o João retira que me parecem simplistas e, o que é pior, erradas.
Os conservadores não adoram Oakeshott: este conservador e outros certamente: por tudo o que o João enumerou, pela sua heterodoxia, pelo combate ao racionalismo na política - que levou aos desastres totalitários que conhecemos e que o marxismo, esse fatalismo positivista, é só um dos lados - e sim, por algum cepticismo. Mas outros conservadores preferirão Leo Strauss, Berlin ou Hayek, longe de Oakeshott (sobretudo o primeiro).
Não me parece que não defender a mudança como valor em si - que é o que aqui se trata - seja uma desvalorização da realidade; nem que o conservador, no seu casulo céptico, pratique uma não-acção desfasada com a realidade. Muitos foram os conservadores que ficaram na História pela capacidade de medir riscos e evitar a mudança pela mudança, agindo. Churchill é um caso óbvio.
Há de facto uma diferença de visão do mundo, e isso já todos percebemos. O que não se pode acusar um conservador é de não viver intensamente o dia de hoje, aproveitando-o e filtrando o que nele há-de bom, em detrimento de algo que provavelmente será melhor. Para isso é preciso viver, que é como quem diz, estar imerso na realidade social e humana sem a ambição de a dirigir para cenários mírificos que nos aguardam mesmo ali à esquina. E, como o próprio Oakeshott defendia, saber que se é capaz de se ser conservador em relação à forma de governo e radical em todas as outras actividades.