Os falsos opostos
A propósito deste post, e perante a generalidade de opiniões semelhantes que vou encontrando de tempos a tempos na blogosfera, levanto a dúvida: serão o conservadorismo e o liberalismo opostos? Há uma ideia muito em voga que os descreve como tal, e que leva muita gente a não perceber a viabilidade do espírito ideológico que o CDS pretende ter. No entanto, tal consideração parece-me errada. Desde logo porque ambos os termos descrevem coisas um pouco diferentes. Se encontro no liberalismo uma determinada forma de ideologia bem definida, não consigo fazer o mesmo relativamente ao conservadorismo – que entendo mais como uma espécie de postura saída da personalidade de cada um, e que encontra aplicações nas suas próprias avaliação e argumentação políticas. Logo, somar uma com a outra não resulta em contradição.
As bases para esta confusão derivam essencialmente da divisão redutora que se faz, na hora de encontrar um padrão ideológico aos partidos, entre “questões económicas” e “questões sociais” (não passando estas últimas, nessa lógica simplista, muito para além das tão famosas questões fracturantes). A generalidade das pessoas tende a considerar que o CDS é liberal nas primeiras e conservador nas segundas – e bem. O problema acontece quando, por oposição, consideram que a esquerda, nas tais “questões sociais”, é liberal quando, a meu ver, é progressista – esse sim, o oposto mais adequado para conservadorismo.
Portanto, entendo que, dentro desta lógica, ao definirmos opostos, devemos considerar o liberalismo oposto do socialismo (nas suas diversas correntes) e o conservadorismo oposto do progressismo – e nunca um do outro. Por isso, entendo como normal a existência de quem se diga liberal e conservador. Da mesma forma que não me choca quem se ache a) liberal e progressista, b) socialista e progressista, c) socialista e conservador.
Sendo pragmático e olhando para a nossa realidade, mexendo nestas rotulagens ideológicas sempre incompletas e subjectivas, esta parece-me ser a perspectiva mais correcta.