Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Arquivo Rua Direita

Arquivo Rua Direita

28
Jul09

Os falsos opostos

Tiago Loureiro

A propósito deste post, e perante a generalidade de opiniões semelhantes que vou encontrando de tempos a tempos na blogosfera, levanto a dúvida: serão o conservadorismo e o liberalismo opostos? Há uma ideia muito em voga que os descreve como tal, e que leva muita gente a não perceber a viabilidade do espírito ideológico que o CDS pretende ter. No entanto, tal consideração parece-me errada. Desde logo porque ambos os termos descrevem coisas um pouco diferentes. Se encontro no liberalismo uma determinada forma de ideologia bem definida, não consigo fazer o mesmo relativamente ao conservadorismo – que entendo mais como uma espécie de postura saída da personalidade de cada um, e que encontra aplicações nas suas próprias avaliação e argumentação políticas. Logo, somar uma com a outra não resulta em contradição.


 


As bases para esta confusão derivam essencialmente da divisão redutora que se faz, na hora de encontrar um padrão ideológico aos partidos, entre “questões económicas” e “questões sociais” (não passando estas últimas, nessa lógica simplista, muito para além das tão famosas questões fracturantes). A generalidade das pessoas tende a considerar que o CDS é liberal nas primeiras e conservador nas segundas – e bem. O problema acontece quando, por oposição, consideram que a esquerda, nas tais “questões sociais”, é liberal quando, a meu ver, é progressista – esse sim, o oposto mais adequado para conservadorismo.


 


Portanto, entendo que, dentro desta lógica, ao definirmos opostos, devemos considerar o liberalismo oposto do socialismo (nas suas diversas correntes) e o conservadorismo oposto do progressismo – e nunca um do outro. Por isso, entendo como normal a existência de quem se diga liberal e conservador. Da mesma forma que não me choca quem se ache a) liberal e progressista, b) socialista e progressista, c) socialista e conservador.


 


Sendo pragmático e olhando para a nossa realidade, mexendo nestas rotulagens ideológicas sempre incompletas e subjectivas, esta parece-me ser a perspectiva mais correcta.

11 comentários

  • Sem imagem de perfil

    Michael Seufert 31.07.2009

    Não percebi, faz parte dum movimento liberal, ou faz parte do MLS?
  • Bem isso é o que chamo de 'outing' :)
    Contudo, julgo que mais vale argumentar com os nossos amigos liberais-leninistas - "somos pela liberdade individual, mas como não há igualdade de oportunidades, partimos uns ovos para fazer umas omoletes, e quando a sociedade for perfeita, dispensaremos o Estado"
    (João, já continuamos a nossa conversa)
  • Sem imagem de perfil

    João Cardiga 01.08.2009

    LOL!

    Bem nunca me tinham chamado de "liberal-leninista"! :)

    Mas julgo que a ideia que transmite acaba por dar uma ideia errada. A não ser que estejas numa anarquia tu irás sempre "partir uns ovos". A questão é escolher os quais e qual a forma com que se partem... ;)
  • Acrescentar "igualdade de oportunidades" aos direitos naturais ("liberdades negativas") dá nisso - partir omoletes - o interesse do colectivo acima (e "para o bem") da liberdade individual.
  • Sem imagem de perfil

    João Cardiga 01.08.2009

    Desde já queria deixar claro que não sou um profundo teorico, gostava de saber algumas coisas:

    - consegues-me nomear quais são os direitos naturais? Porquê?

    - Qual ou quais direitos naturais não implicam partir ovos?
  • (João logo que possa respondo, tinha aqui já muito feito, carreguei numa tecla errada, perdi tudo)
  • Sem imagem de perfil

    João Cardiga 03.08.2009

    Ok, sem problemas (embora esteja curioso :))

    E que detesto quando isso me acontece (uma pessoa quase que perde a vontade de voltar a responder).

    Só posso é agradecer o cuidado que tiveste em colocar aqui este comentário. Por isso obrigado!
  • Olá João,

    Primeiro desculpas pela demora [agravada porque sim perdi o que estava a escrever na segunda-feira] e os meus cumprimentos pela curiosidade intelectual. Vou tentar ser sucinto, muita precisão de conceitos vai ficar pelo caminho.

    Os direitos naturais são uma interpretação dos direitos fundamentais do Homem. São expressos na forma "negativa" pelo que também são ditos "liberdades negativas".

    Dizem respeito aquilo a que eu tenho direito a que os outros se abstenham de me fazer. Uma formulação que gosto é "vida, liberdade, propriedade" - direito a que não me matem ou agridam fisicamente; direito a não ser impedido de me associar a quem quero, ter a minha religião, as minhas opiniões políticas, etc; direito a deter bens materiais e a dar-lhe usos honestos. É uma doutrina de não-agressão.

    Neste século, alguém disse que o princípio do liberalismo clássico era "propriedade privada" - contrasta com o dito de Marx que dizia que o objectivo do socialismo era a abolição da mesma. "Propriedade privada" incluindo o próprio corpo e a própria alma. Isso talvez ajude a perceber este estridente SWF - http://www.isil.org/resources/introduction.swf

    Estas "liberdades negativas" foram chamadas "direitos naturais" porque alguns entendiam que eram inerentes ao indivíduo - e precediam a sociedade, e portanto também ao Estado. Eram aquelas necessárias para permitem ao Homem ser Homem, e as estritamente necessárias para ser um fim e não um meio de terceiros.

    A formulação negativa assegura que não há incompatibilidades entre o exercício das liberdades negativas.

    Agora, se inverteres a formulação, a coisa muda de figura. O "direito a deter propriedade" na forma "positiva" diz "eu tenho o direito à propriedade. Se não a tenho, os meus direitos estão a ser violados". Passou a ser um "direito social".

    Para reparar essa “injustiça”, e dado que as pessoas não têm a “consciência social” para darem livremente o que é seu, alguém tem de subtrair bens a terceiros para satisfazer a minha pretensão. Tudo pertence a todos.

    Abraço!
  • Sem imagem de perfil

    João Cardiga 06.08.2009

    Antes demais obrigado e obrigado. Obrigado pelo link, o qual gostei muito, e obrigado pela paciencia em me responderes.

    Fico curioso com o facto de tendo em linha de conta o que está na apresentação e o que tu afirmas em "direito a não ser impedido de me associar a quem quero" qual a tua posição relativamente ao casamento entre homossexuais?

    Assim como pegando na liberdade negativa de posse do nosso corpo, qual a tua posição relativamente à eutanásia?


    E outra duvida, quase filosófica nesta questão é: sendo que os direitos negativos foram determinados por "alguns entendiam que eram inerentes ao indivíduo", com que motivo que nós, debatendo esta questão, não os podemos alargar (visto que a realidade actual é diferente de à seculos atrás) sem eles perderam a sua qualidade de direitos naturais?

    Outro ponto que acho muito interessante, foi que no video concordei com tudo (ou quase tudo - talvez seja mais rigoroso assim embora não me recorde no quê), e presumo que tu também e julgo que temos interpretações completamente diferentes do impacto daquelas permissas...

    Bem ficaram aqui mais algumas questões. Espero que não te aborreças, mas sou um curioso natural e gosto de entender bem as questões... 
  • Sem imagem de perfil

    João Cardiga 10.08.2009

    Oi AA,

    Agora é a minha vez de pedir muitas desculpas pelo atraso da resposta.
    Bem antes demais queria comentar o que já escreveste:

    1) Casamento: concordo contigo e julgo quanto às benesses ao casamento/familia devem terminar e deverão ser substituidas por outras.

    2) Nem quando próprio não o consegue fazer pelos seus meios (imaginando que também não tem mais ninguém)?

    3) Julgo que é aqui que nos dividimos, pois eu assumo (com ou sem estado social) que os ovos são partidos (falo dos impostos), por isso julgo que as funções do estado devem ser decididos em sociedade e que após isto se decide sobre a forma de financiamente. Os direitos sociais, são direitos per si (por exemplo o direito a usufruir de determinados recursos independentemente do nível de rendimento). Para mim não existe diferença entre a acção de "saude" ou "educação" do Estado ou de "justiça" ou "segurança". Poder-se-à dizer que estes não são direitos naturais, para mim honestamente não vejo diferença (um direito negativo é uma proibição positiva).

    Sei que não avancei muito com a conversa, se quiseres comentar o que escrevi optimo, no entanto irei tentar estruturar melhor o pensamento (ando ultimamente com uma "branca de escritor", desculpa-me).

    Abraços
  • Comentar:

    Mais

    Comentar via SAPO Blogs

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.

    Subscrever por e-mail

    A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

    Contacto

    ruadireitablog [at] gmail.com

    Arquivo

    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2010
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2009
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D